Título no Brasil: A.I. : Inteligência
Artificial
Título Original: Artificial Intelligence: AI
País de Origem: EUA
Gênero: Ficção
Classificação etária: Livre
Tempo de Duração: 146 minutos
Ano de Lançamento: 2001
Estúdio/Distrib.: Warner Home Vídeo
Direção: Steven Spielberg
Título Original: Artificial Intelligence: AI
País de Origem: EUA
Gênero: Ficção
Classificação etária: Livre
Tempo de Duração: 146 minutos
Ano de Lançamento: 2001
Estúdio/Distrib.: Warner Home Vídeo
Direção: Steven Spielberg
O sonho de um filme
que tratasse de questões da relação homem-máquina nasceu há anos, com Stanley
Kubrick, diretor e roteirista de grandes filmes como 2001: Uma Odisséia no
Espaço (1968). A.I. foi idealizado pelo cineasta com base em um conto do
escritor Brian Aldiss, de 1969, intitulado Superbrinquedos duram o verão todo
(Supertoys Last All Summer Long). Kubrick trabalhou cerca de 20 anos nesse
projeto, que não chegou a sair do papel, pois o diretor tinha dúvidas se
conseguiria material tecnológico suficiente para realizar o filme. Com sua
morte, em 1999, coube a Steven Spielberg a responsabilidade de concretizar o
projeto a partir do que ambos haviam discutido.
A história de A.I.
Inteligência Artificial se passa num futuro indeterminado, quando a terra havia
sofrido grandes transformações ambientais, devido às conseqüências do efeito
estufa. Para lidar com esse desastre ambiental, humanos criam um novo tipo de computador
com uma inteligência artificial incrível: os mecas, robôs independentes,
conscientes de sua existência. Assim, a Terra fica dividida entre os orgas
(seres orgânicos/humanos) e os mecas (seres mecânicos/robôs). Existem vários
tipos de mecas, produzidos com as mais diferentes finalidades, mecas babás,
mecas empregados, e até mecas amantes para satisfazer os desejos das mulheres.
Contudo, todos eles têm uma característica em comum: a de servir aos seres
humanos como “escravos”, incondicionalmente.
O filme A.I., assim
como outros grandes filmes de ficção cientifica que retratam a relação
homem-máquina, revela um pensamento quase que generalizado nessas obras, a de
que os homens, ao criarem artefatos tecnológicos, sentem ao mesmo tempo uma mistura
de prazer e medo. Prazer por realizar obra comparada à criação “divina” e, ao
mesmo tempo, medo, principalmente de serem substituídos por tal obra, ou mesmo
de que a “criatura” se volte contra o “criador”.
Será mesmo que um
dia a humanidade poderá ser substituída pela tecnologia? Durante o filme
percebemos claramente a “rejeição” do homem pela máquina, já que os orgas são
completamente contra a “artificialização” da vida do homem. Não admitem que a
sociedade “trate” robôs como “humanos”. Segundo os orgas, essas ações servem
apenas para prejudicar a relação do homem em sociedade. Noma (1998, p.147) nos
lembra que “os sujeitos do século XX têm suas razões para desconfiar e para
temer a ciência, haja visto as experiências com a bomba atômica, com os gases,
com as armas e artefatos desenvolvidos para a guerra...” Mas se a tecnologia
nasceu da necessidade do homem, não será então o homem quem deverá estabelecer
limites a essa tecnologia?
Hoje podemos dizer
que a tecnologia não é somente uma necessidade, mas algo natural à vida do
homem, pois faz parte de seu cotidiano. TV, rádio, celular, computador, mp3,
laptop... é mesmo quase impossível pensar nossas vidas sem a tecnologia.
Alimentos transgênicos, clones de animais, inseminações artificiais, afinal de
contas não é preciso mais “amar” para que se tenha um filho. Que repercussões
podem advir de mudanças tão grandiosas? O que acontecerá conosco se
continuarmos avançando da forma como estamos?
Afinal, quando nos
tornamos escravos dessa tecnologia? Existem pessoas que passam horas na
frente do computador, ou mesmo trocando mensagens pelo celular, o famoso sms.
Conversas virtuais, encontros virtuais, relacionamentos virtuais, msn,
blog, orkut, chat. Porque as pessoas preferem esse tipo de contato? Todos
nós, ao nos relacionarmos com outras pessoas passamos por diferentes situações,
sofrimentos, desentendimentos. No entanto, esses relacionamentos é que nos
fazem amadurecer, crescer como pessoa, como cidadão. Por outro lado, o homem
“virtual”, numa tentativa de não sofrer, de não errar, de não se frustrar ou
frustrar o “outro”, renuncia ao contato humano e social, pela facilidade que
encontra em ser não o que é, mas o que “sonhou” ser.
No filme, a Cybertronics
Manufacturing, empresa que domina a criação de mecas, resolve projetar um
robô que seja capaz de amar, um robô com sonhos e sentimentos iguais aos de
seres humanos. Liderados pelo cientista Robby (William Hurt), o meca David
(Haley Joel Osment) é desenvolvido, lembrando a criação de Adão e Eva,
"programados" para amar o seu criador. O meca-filho tem a função de
garantir um amor incondicional aos seus “pais”: Monica (Frances O’Connor) e
Henry (Sam Robards), funcionário da empresa fabricante. David é acionado para
"amar" quando Mônica verbaliza uma lista de sete palavras,
previamente planejadas e constantes do manual de instruções: cirro, Sócrates,
partícula, decibel, furacão, tulipa e golfinho.
Se a grande
questão, inicialmente destacada no filme, referia-se à capacidade de um meca
amar um orga, agora a situação se inverte: será um humano capaz de amar um
meca? Ao criar um robô-filho que tivesse a capacidade de amar, o cientista
abriu vários precedentes, afinal, quem ficaria responsável por amar aquela
“criança”? Qual a responsabilidade dos pais sobre esse “filho artificial”?
Humanos seriam capazes de amar um robô? Mas o que chama a atenção é que o
cientista, ao idealizar David, pensou numa característica que o tornaria único:
David seria capaz de amar e sonhar. E David sonha, faz planos, projeta
realizações. E o mais importante, busca realizá-los sem ser programado para
fazê-lo.
Estruturado como um
conto de fadas, A.I. situa a ação de seus personagens entre a fantasia mais
pura e o medo de crescer, de deixar de ser criança e perder o amor dos pais,
permeado pela insegurança de nossa inserção no mundo adulto, pela necessidade
da busca por uma identidade própria. Ao final de sua jornada, o “herói” vai
emergir “humanizado”, a "humanização" do menino-robô é representada
no final quando ele “adormece” e "morre" junto com a "mãe".
Simbolicamente, ao “morrer”, ele se torna ser humano, já que morrer é uma
característica humana.
A visão distópica
de A.I. inclui o desfecho profetizado por Gigolo Joe, “Nós sofremos pelo erro
deles, porque, quando o fim chegar, tudo que restará seremos nós”, as máquinas
sobrevivem aos seres orgânicos. Quando David é resgatado do fundo do mar,
depois de dois mil anos de espera, o homem é uma espécie extinta. O mundo está
povoado por mecas altamente desenvolvidos, que fazem escavações para descobrir
suas origens. Ao final, David “torna-se a memória permanente da raça humana”,
paradoxalmente, a prova da capacidade dos homens fica registrada na memória de
um ser robótico, o resgate de sua memória sinaliza não a sua evolução, mas o
processo de sua extinção.
O filme, além de
nos trazer questionamentos sobre essa relação tão polêmica e tão complexa que é
a do homem com a máquina, nos deixa uma grande lição, a de que nós, humanos,
temos capacidade, maior do que qualquer artefato tecnológico: somos capazes de
amar! Sonhar, planejar, enfim, nos emocionar. Grandes qualidades dos seres
humanos.
De acordo com Noma
(1998, p.145), filmes como A.I. servem de alerta para o fato de que
“a adesão, a aceitação cega, sem questionamentos, dos produtos da ciência e da
tecnologia pode levar à morte, à desordem e à destruição”. O homem do mundo
globalizado não tem mais tempo, falta-lhe tempo para passear, para comprar,
para se relacionar, e nessa ânsia pelo tempo, ou melhor, por “agilizar” o seu
tempo, busca nas mais diferentes possibilidades tecnológicas tornar sua vida
cada dia mais prática e, conseqüentemente, mais “artificial”, muitas vezes
tornando-se “escravo” destes recursos.
Autoras:
Suelen Fernanda Machado – Pedagoga
e Assessora Pedagógica da CRTE de Campo Mourão.
Amélia Kimiko Noma
– Professora Dra. da UEM – Universidade Estadual de Maringá.
Fonte: http://www.cinema.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=99
Referência
NOMA, Amélia
Kimiko. Visualidades da vida urbana: Metropolis e Blade Runner.
São Paulo, 1998. Tese (Doutorado em História Social)-Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo.