quinta-feira, 7 de junho de 2018

Alfabetização e Empowerment Político

A leitura de mundo ocorre bem antes do aprender a decifrar os signos, o alfabetizando lê o mundo ao qual faz parte, portanto “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”. O ato de ler a palavra envolve aprender a ler o texto e o contexto, então leitura de mundo e leitura da palavra se fazem ações necessárias no processo de construção de cidadãos críticos, pensantes e problematizadores. Este processo de libertação que acontece no âmbito social e coletivo, onde potencialidades e capacidades são desenvolvidas, provenientes de uma conscientização libertadora.
A educação bancária é protagonizada pela elite, dissemina e reproduz a desigualdade social educando para a submissão e divisão de classes. A educação problematizadora, ao contrário, tem uma pedagogia pensada com os educandos das classes oprimidas, sendo construída através das próprias necessidades e realidades, é um processo horizontal, pois não é proposto por classes dominantes para os dominados executarem, além disso, é o caminho para a construção da consciência reflexiva e politizada acerca das realidades sociais.
Diálogo-dialogicidade é a ação principal no processo de uma educação libertadora. "o diálogo implica uma práxis social, que é o compromisso entre a palavra dita e nossa ação humanizadora" p.130.
O diálogo implica debate, troca de ideias e informação, não se faz sozinho, é nesse sentido que freire aponta como uma ação principal e necessária na educação que quer transformar, através dessa dialogicidade o educando conhece o educador e vice versa, entende sua realidade e compreende suas necessidades, aflições, lutas, etc.
Alfabetização por sua vez é um processo que envolve ação e criação, portanto não pode estar dissociado da cultura, da realidade desses seres em processo de alfabetização. Quando o fio condutor desse processo é de interesse do aluno, pois lhe pertence de algum modo, a alfabetização se dá de forma eficaz e verdadeira, pois faz com que haja compreensão e não apenas a decodificação de letras, números e demais símbolos.
O artigo, a autora Mariléia resgata em Freire, os pontos fundamentais de uma prática alfabetizadora de adultos e alguns conceitos de letramento com a finalidade de discutir as aproximações entre a concepção freireana de alfabetização - leitura de mundo e leitura da palavra - e as diferentes concepções de letramento, entre outros autores.
Diante das diferentes opiniões discutidas entre outros autores, a autora Mariléia faz uma abordagem sobre a denominação terminológica dos múltiplos olhares sobre um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à palavra, tendo como forma de expressão a leitura e a escrita.
De acordo com o texto, a autora Mariléia, inaltece a postura de Freire, o quanto ele inspira confiança pela sua coerência entre o dizer e o fazer, sendo uma pessoa humilde, com disposição e diálogo. Deixando um legado pedagógico, permitindo olhar as conexões com o outro no mundo.Visando às múltiplas possibilidades de intervenção, uma vez que há condicionamentos e não determinações. Sugere que cada um se assuma como aprendente da própria história em busca do ser mais.
O sistema educacional infelizmente ainda é o local onde há falta de distribuição igualitária de educação, porém na verdade ocorre uma diferenciação onde da classe média para a alta a qualidade é uma e entre as classes menos favorecidas o intuito do sistema é manter sutilmente a grande massa amordaçada e atrelada ao sistema de ensino que os prepara para o mercado de trabalho apenas.
Ocorre um belo discurso de levar-se em consideração a realidade dos educandos como parâmetro para serem colocados como transformadores de sua história, mas na verdade dentro do sistema os professores são vigiados e limitados a produzirem desde o currículo escolar o que já vem hierarquicamente predefinido a ser transmitido.
Mantendo desta forma a finalidade dos interesses governamentais que é a limitação da compreensão do povo, digamos assim para que as articulações críticas não possuam força suficiente para se fazer ouvir. E que cabe aos professores contrários a esta realidade que encontrem dentro do seu fazer estratégias que possibilitem aos seus educandos construir o pensamento critico capaz mobilizar e modificar seu entorno.
Para que venha a concretizar-se a alfabetização radical, o pedagógico deve tornar-se mais político e o político, mais pedagógico. Ou ainda, há uma necessidade terrível de desenvolver práticas pedagógicas, no primeiro caso, que reúnam professores, pais e alunos em torno de visões da comunidade que sejam mais emancipadoras. O modelo freiriano de alfabetização emancipadora.
Paulo Freire proporcionou um dos poucos modelos práticos e emancipadores sobre o qual se pode desenvolver uma filosofia radical da alfabetização e da pedagogia. Como se sabe e está amplamente documentado, ele tem se preocupado, no correr dos últimos vinte anos, com o tema da alfabetização como projeto político emancipador, e tem desenvolvido o conteúdo emancipador de suas ideias dentro de uma pedagogia concreta e prática.
Ainda da maior importância, a alfabetização para Freire é, inerentemente, um projeto político no quais homens e mulheres afirmam seu direito e sua responsabilidade não apenas de ler, compreender e transformar suas experiências pessoais, mas também de reconstituir sua relação com a sociedade mais ampla.
Neste sentido, a alfabetização é fundamental para erguer agressivamente a voz de cada um como parte de um projeto mais amplo de possibilidade e de empowerment. Além disso, o tema alfabetização e poder não começa e termina com o processo de aprender a ler e escrever criticamente; ao contrário, começa com o fato da existência de cada um como parte de uma prática historicamente construída no interior de relações específicas do poder.
Para Corrigan e outros, a construção do significado dentro da escola é muitas vezes estruturada mediante uma gramática social dominante, que limita a possibilidade do ensino e aprendizagem críticos nas escolas. A linguagem dominante, neste caso, estrutura regulamenta não só o que deve ser ensinado, mas também como deve ser ensinado e avaliado.
A alfabetização e a libertação do recordar Reconstruir a história nesse sentido é situar o significado e a prática da alfabetização num discurso ético que tem como referência aquelas situações de sofrimento que precisam ser lembradas e superadas. Como elemento libertador do recordar, a busca histórica torna-se mais do que uma simples preparação para o futuro por meio da recuperação de uma série de eventos passados; em vez disso, torna-se um modelo para a constituição do potencial radical da memória.
Alfabetização como forma de política cultural, dentro desse tipo de análise, a alfabetização proporciona um foco importante para a compreensão dos interesses e princípios políticos e ideológicos em jogo nos entrechoques e nos intercâmbios pedagógicos entre o professor, o educando e as formas de significado e de conhecimento que eles produzem em conjunto.
Além de tratar o currículo como uma narrativa cujos interesses devem ser postos a descoberto e examinados criticamente, os professores radicais devem desenvolver condições pedagógicas em suas salas de aula que permitam que as diversas vozes dos alunos sejam ouvidas e legitimadas. Os professores devem propiciar aos alunos a oportunidade de examinar diversas linguagens ou discursos ideológicos, como se encontram desenvolvidos numa variedade de textos e de materiais curriculares.
Isso é importante por diversas razões. Uma pedagogia crítica precisa primeiramente validar e investigar a produção de leituras diferenciais. Ao fazê-lo, os alunos são estimulados a engajar-se na tarefa teórica e prática de examinar suas próprias posições teóricas e políticas. A seguir, uma pedagogia desse tipo deve criar as condições de sala de aula necessárias para a identificação e a problematizarão das maneiras contraditórias e múltiplas de ver o mundo que os alunos usem para a construção de sua própria visão do mundo.

REFERÊNCIAS:

ALFERES, Maria Aparecida. Alfabetização e Letramento: tecendo relações com o pensamento de Paulo Freire. Disponível em: <https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2388211/mod_resource/content/0/20170601130727.pdf> Acesso em: 10 abr. 2018.

BORGES, Liana da Silva. Alfabetização. In STRECK, Danilo R; REDIN, Euclides, ZITKOSKI, Jaime José. Dicionário Paulo Freire. Belo Horizonte: Autêntica Editora. 2016. 3a edição. Disponível em:
<https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2388209/mod_folder/content/0/Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o.pdf?forcedownload=1> Acesso em: 10 de abr. 2018.

GIROUX, H. A. Alfabetização e a pedagogia do empowerment político. In: FREIRE, P.; MACEDO, D. Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. Disponível em:
<https://moodle.ufrgs.br/mod/resource/view.php?id=1465869> Acesso em: 6 de abr. 2018.
 Tarefa

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