quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Olhar para o lado...

Imagem disponível em:<http://www.portalafricas.com.br/v1/wp-content/uploads/2015/11/racismo-13-12-13-615x340.jpg> acesso em: 28 nov 2017.
Um olhar para os lados sejam eles também para o passado foi uma proposta de reflexão bem significativa que sempre fiz silenciosamente, porém nunca coloquei no papel. E esta proposta de analise e reflexão intitulada “Teste de pescoço” proporcionou um novo olhar, um olhar cuidadoso e como também posso mencionar curioso.
Ao longo da minha vida acadêmica tive duas professoras negras uma no ensino fundamental anos iniciais professora de música e outra no ensino técnico professora de datilografia. No decorrer da minha escolarização tive colegas negros, no ensino superior eles diminuíram drasticamente, porém estávamos lá nos bancos acadêmicos três negras.
Atualmente estou cursando uma segunda graduação e assim como na primeira não tenho nenhum professor ou tutor negro visualmente, visto que temos negros de pele branca porém geneticamente negro, quanto ao número de colegas posso afirmar que a quantidade aumentou significativa. Como comprova MELLO:
O significativo aumento de indivíduos negros no ensino superior é prova incontestável da necessidade de políticas públicas voltadas para a diminuição das desigualdades raciais. O índice de paridade racial no ensino superior, de acordo com dados divulgados pela Fundação Carlos Chagas, passou de 0,25 no ano 2000, para 0,56 no ano de 2010. Assim, se em 2000 havia quatro estudantes brancos para cada estudante negro, essa proporção se reduziu pela metade em 2010.

Onde leciono atualmente escola de ensino fundamental somos duas professoras negras, porém por longos anos estive só, minha escola não possui ações afirmativas significativas. Pretendo realizar mestrado e doutorado e somar neste número tão singelo de professores negros nas universidades brasileiras como dados apresentados por CARVALHO (2005, p.93):
Se juntarmos todos os professores de algumas das principais universidades de pesquisa do país (por exemplo, USP, UFRJ, Unicamp, UnB, UFRGS, UFSCAR e UFMG), teremos um contingente de aproximadamente 18.400 acadêmicos, a maioria dos quais com doutorado3 . Esse universo está racialmente dividido entre 18.330 brancos e 70 negros; ou seja, entre 99,6% de docentes brancos e 0,4% de docentes negros (não temos ainda um único docente indígena).
Conversando com minha tia que tem setenta anos e estudou até o ensino fundamental em um distrito de Piratini chamado de Cancelão. Ela relatou que sua escola, ou melhor, sua turma era multi seriada, ou seja, vários anos na mesma turma. Sua professora era branca e a escola era mista, porém a grande maioria era de alunos negros.
Ela estudou aproximadamente até o quarto ano, por não existir ensino avançado no município e a necessidade latente de trabalhar abandonou a escola com onze anos de idade. Também mencionou que quando mudou para um município maior juntamente com a família que trabalhava, sentiu vontade de estudar, porém não tinha horário disponível para tal, pois como domestica era “a primeira a levantar e a ultima para deitar”.
Sinto tristeza e vitória em suas palavras, pois devido ao esforço dela e de minha mãe que também não teve estudos além da alfabetização e que assim como minha tia trabalhou como domestica, nós tivemos acesso a educação superior.
Vou adotar em minha rotina e também incentivar meus alunos a praticar o “teste do pesco”, com o intuito de estimular e encorajar a preenchermos positivamente todos os locais de ascensão e destaque.

Referências:

CARVALHO, José Jorge de. O confinamento racial do mundo acadêmico brasileiro. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/revusp/article/viewFile/13485/15303> acesso em 23 out. 2017.

SANTOS, Isabel Silveira dos Santos. Contando Outras Histórias Sobre a Educação De Negros (As). Disponível em: < https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2192918/mod_resource/content/1/SANTOS%2C%20Isabel%20Silveira%20dos.%20Contando%20outras%20hist%C3%B3rias%20sobre%20a%20educa%C3%A7%C3%A3o%20de%20negros_as_%20FINALIZADO.pdf> acessado em 23 out. 2017.

SILVEIRA, Aline. A intelectualidade negra e a invisibilidade nos espaços acadêmicos. Disponível em: < http://blogueirasnegras.org/2014/10/28/a-intelectualidade-negra-e-a-invisibilidade-nos-espacos-academicos/> acessado em 24 out. 2017.


MELLO, Luciana Garcia de. Racismo de Estado e a produção de desigualdades raciais no sistema educacional. Disponível em: <https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2192919/mod_resource/content/1/Vers%C3%A3o%20final%20-%20Uniafro.pdf> acessado em 23 out. 2017.

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