A leitura
de mundo ocorre bem antes do aprender a decifrar os signos, o alfabetizando lê
o mundo ao qual faz parte, portanto “a leitura do mundo precede a leitura da
palavra”. O ato de ler a palavra envolve aprender a ler o texto e o contexto,
então leitura de mundo e leitura da palavra se fazem ações necessárias no
processo de construção de cidadãos críticos, pensantes e problematizadores.
Este processo de libertação que acontece no âmbito social e coletivo, onde
potencialidades e capacidades são desenvolvidas, provenientes de uma
conscientização libertadora.
A educação
bancária é protagonizada pela elite, dissemina e reproduz a desigualdade social
educando para a submissão e divisão de classes. A educação problematizadora, ao
contrário, tem uma pedagogia pensada com os educandos das classes oprimidas,
sendo construída através das próprias necessidades e realidades, é um processo
horizontal, pois não é proposto por classes dominantes para os dominados
executarem, além disso, é o caminho para
a construção da consciência reflexiva e politizada acerca das realidades
sociais.
Diálogo-dialogicidade é
a ação principal no processo de uma educação libertadora. "o diálogo
implica uma práxis social, que é o compromisso entre a palavra dita e
nossa ação humanizadora" p.130.
O diálogo implica
debate, troca de ideias e informação, não se faz sozinho, é nesse sentido que
freire aponta como uma ação principal e necessária na educação que quer
transformar, através dessa dialogicidade o educando conhece o educador e vice
versa, entende sua realidade e compreende suas necessidades, aflições, lutas,
etc.
Alfabetização por sua
vez é um processo que envolve ação e criação,
portanto não pode estar dissociado da cultura, da realidade desses seres em
processo de alfabetização. Quando o fio condutor desse processo é de interesse
do aluno, pois lhe pertence de algum modo, a alfabetização se dá de forma
eficaz e verdadeira, pois faz com que haja compreensão e não apenas a
decodificação de letras, números e demais símbolos.
O artigo, a autora Mariléia resgata em
Freire, os pontos fundamentais de uma prática alfabetizadora de adultos e
alguns conceitos de letramento com a finalidade de discutir as aproximações
entre a concepção freireana de alfabetização - leitura de mundo e leitura da
palavra - e as diferentes concepções de letramento, entre outros autores.
Diante das diferentes opiniões discutidas
entre outros autores, a autora Mariléia faz uma abordagem sobre a denominação
terminológica dos múltiplos olhares sobre um dos direitos fundamentais do ser
humano: o direito à palavra, tendo como forma de expressão a leitura e a
escrita.
De acordo com o texto, a autora Mariléia,
inaltece a postura de Freire, o quanto ele inspira confiança pela sua coerência
entre o dizer e o fazer, sendo uma pessoa humilde, com disposição e diálogo.
Deixando um legado pedagógico, permitindo olhar as conexões com o outro no
mundo.Visando às múltiplas possibilidades de intervenção, uma vez que há
condicionamentos e não determinações. Sugere que cada um se assuma como
aprendente da própria história em busca do ser mais.
O sistema educacional infelizmente ainda
é o local onde há falta de distribuição igualitária de educação, porém na
verdade ocorre uma diferenciação onde da classe média para a alta a qualidade é
uma e entre as classes menos favorecidas o intuito do sistema é manter
sutilmente a grande massa amordaçada e atrelada ao sistema de ensino que os
prepara para o mercado de trabalho apenas.
Ocorre um belo discurso de levar-se em
consideração a realidade dos educandos como parâmetro para serem colocados como
transformadores de sua história, mas na verdade dentro do sistema os
professores são vigiados e limitados a produzirem desde o currículo escolar o
que já vem hierarquicamente predefinido a ser transmitido.
Mantendo desta forma a finalidade dos
interesses governamentais que é a limitação da compreensão do povo, digamos
assim para que as articulações críticas não possuam força suficiente para se
fazer ouvir. E que cabe aos professores contrários a esta realidade que
encontrem dentro do seu fazer estratégias que possibilitem aos seus educandos
construir o pensamento critico capaz mobilizar e modificar seu entorno.
Para que venha a concretizar-se a
alfabetização radical, o pedagógico deve tornar-se mais político e o político,
mais pedagógico. Ou ainda, há uma necessidade terrível de desenvolver práticas
pedagógicas, no primeiro caso, que reúnam professores, pais e alunos em torno
de visões da comunidade que sejam mais emancipadoras. O modelo freiriano de
alfabetização emancipadora.
Paulo Freire proporcionou um dos poucos
modelos práticos e emancipadores sobre o qual se pode desenvolver uma filosofia
radical da alfabetização e da pedagogia. Como se sabe e está amplamente
documentado, ele tem se preocupado, no correr dos últimos vinte anos, com o
tema da alfabetização como projeto político emancipador, e tem desenvolvido o
conteúdo emancipador de suas ideias dentro de uma pedagogia concreta e prática.
Ainda da maior importância, a
alfabetização para Freire é, inerentemente, um projeto político no quais homens
e mulheres afirmam seu direito e sua responsabilidade não apenas de ler,
compreender e transformar suas experiências pessoais, mas também de
reconstituir sua relação com a sociedade mais ampla.
Neste sentido, a alfabetização é
fundamental para erguer agressivamente a voz de cada um como parte de um
projeto mais amplo de possibilidade e de empowerment. Além disso, o tema
alfabetização e poder não começa e termina com o processo de aprender a ler e
escrever criticamente; ao contrário, começa com o fato da existência de cada um
como parte de uma prática historicamente construída no interior de relações
específicas do poder.
Para Corrigan e outros, a construção do
significado dentro da escola é muitas vezes estruturada mediante uma gramática
social dominante, que limita a possibilidade do ensino e aprendizagem críticos
nas escolas. A linguagem dominante, neste caso, estrutura regulamenta não só o
que deve ser ensinado, mas também como deve ser ensinado e avaliado.
A alfabetização e a libertação do
recordar Reconstruir a história nesse sentido é situar o significado e a
prática da alfabetização num discurso ético que tem como referência aquelas
situações de sofrimento que precisam ser lembradas e superadas. Como elemento
libertador do recordar, a busca histórica torna-se mais do que uma simples
preparação para o futuro por meio da recuperação de uma série de eventos
passados; em vez disso, torna-se um modelo para a constituição do potencial
radical da memória.
Alfabetização como forma de política
cultural, dentro desse tipo de análise, a alfabetização proporciona um foco
importante para a compreensão dos interesses e princípios políticos e
ideológicos em jogo nos entrechoques e nos intercâmbios pedagógicos entre o
professor, o educando e as formas de significado e de conhecimento que eles
produzem em conjunto.
Além de tratar o currículo como uma
narrativa cujos interesses devem ser postos a descoberto e examinados
criticamente, os professores radicais devem desenvolver condições pedagógicas
em suas salas de aula que permitam que as diversas vozes dos alunos sejam ouvidas
e legitimadas. Os professores devem propiciar aos alunos a oportunidade de
examinar diversas linguagens ou discursos ideológicos, como se encontram
desenvolvidos numa variedade de textos e de materiais curriculares.
Isso é importante por diversas razões.
Uma pedagogia crítica precisa primeiramente validar e investigar a produção de
leituras diferenciais. Ao fazê-lo, os alunos são estimulados a engajar-se na
tarefa teórica e prática de examinar suas próprias posições teóricas e
políticas. A seguir, uma pedagogia desse tipo deve criar as condições de sala
de aula necessárias para a identificação e a problematizarão das maneiras
contraditórias e múltiplas de ver o mundo que os alunos usem para a construção
de sua própria visão do mundo.
REFERÊNCIAS:
ALFERES, Maria Aparecida. Alfabetização e Letramento:
tecendo relações com o pensamento de Paulo Freire. Disponível em:
<https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2388211/mod_resource/content/0/20170601130727.pdf>
Acesso em: 10 abr. 2018.
BORGES, Liana da Silva. Alfabetização. In STRECK, Danilo R; REDIN, Euclides, ZITKOSKI, Jaime
José. Dicionário Paulo Freire. Belo Horizonte: Autêntica Editora. 2016.
3a edição. Disponível em:
<https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2388209/mod_folder/content/0/Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o.pdf?forcedownload=1>
Acesso em: 10 de abr. 2018.
GIROUX, H. A. Alfabetização e a
pedagogia do empowerment político. In: FREIRE, P.; MACEDO, D.
Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra. – Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1990. Disponível em:
<https://moodle.ufrgs.br/mod/resource/view.php?id=1465869>
Acesso em: 6 de abr. 2018.
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